Sou leitor e assinante do diário Jornal A Tarde, há mais de 40 anos.
Como leitor, com certeza, quase cinquent’anos, visto que fui a ele (jornal) apresentado em 1967, na Ilhéus de São Jorge – Capital sulista da Bahia, refúgio boêmio de Jorge Amado – quando excursionávamos com a Turma de Concluintes da Quarta Série Ginasial, do laureado Ginásio Professora Maria Ferreira da Silva, da minha outrora Natuba, Nova Soure. Como assinante, pouco mais de duas décadas.
Aqui no Soure, tínhamos acesso a poucas obras literárias. Predominavam clássicos, como as obras de Machado de Assis, José de Alencar; às vezes do matemático-pedagogo Malba Tahan, etc., alguns gibis, além de bolsilivros de faroeste, de Marcial Lafuente Stefania.
Os clássicos por empréstimo de professores ou de pessoas de famílias ricas da cidade – afinal poucos tínhamos condições de comprar livros, principalmente se não fossem os didáticos adotados nas escolas – os gibis e bolsilivros. passados de mão em mão entre garotos, principiando, obviamente, por alguns dos mais abastados.
Sem nenhum ranço machista, desnecessário dizer que, na ala feminina pontuava a leitura de revistas novelescas e noticiosas sobre vidas e amores de cantores e astros da época: Capricho, Sétimo Céu, Ilusão, InTerValo, Melodias, etc.
A leitura me alcançou logo nos primeiros anos de vida – lá pelos cinco ou seis anos de idade –
não só na escola regular, como por meio de duas obras que encontrei numa das gavetas do bureau que pertenceu ao meu pai, que falecido em 1958 e ainda bem jovem.
Uma delas, o livro O Brigadeiro Eduardo Gomes, Trajetória de um Herói, de Cosme Degenar Drumond e a outra uma edição da revista norte americana, circulando no Brasil desde a década de 1940, Seleções do Reader’s Digest.
Outras leituras ma alcançaram na obrigação escolar:
inevitáveis, formadoras, esclarecedoras, porém obrigacionais e não me fizeram despertar mais do que prestar contas em sala de aula, infelizmente até aquele momento.
Só tive acesso ao Jornal A Tarde pela benevolência do Dr João Leal, então Secretário Particular de Sua Excelência o Prefeito de Ilhéus – Dr Nerival de Rosa Barros, eleito em 1966 pela UDN, como também aqui o fora o nosso Zé Ramos – José Ramos de Souza. Eles foram muito amigos, a ponto do Dr Nerival nos receber – os excursionistas – e nos proporcionar belas viagens aos pontos turísticos da sua Ilhéus.
Pois bem, lidas as primeiras páginas daquele jornal, reacendeu em mim o fascínio pela leitura.
Este fascínio reavivado, reputo tenha sido o maior aproveitamento que angariei naquela excursão de alunos, a maioria deles imberbes e de situação econômica sofrível.
Leitura de Jornais, daí em diante, somente quando Zé Ramos chegasse da Bahia e trouxesse algum, com uma semana de publicado ou mais. Até mesmo o Diário Oficial me servia pra leitura. Eu não sabia nada do significado daquilo tudo que estava decretado naquele Diário, mas lia e relia, sempre me deparando com termos nunca vistos, a exemplo de dotação orçamentária, insculpida na legislação, ad referendum do Conselho de Ministros, etc., etc., etc.
Mas, para adequar esta minha escrita ao título que escolhi, vou retomar da ideia inicial que, com certeza, fará justiça ao escolhido.
Quando lia, em A Tarde, os artigos do mestre Jorge Calmon sempre me dizia introspectiva e silenciosamente, o meu ego apreendeu e jamais se apagou de minha memória: estes artigos do Dr Calmon são umas verdadeiras aulas públicas.
Hoje, neste primeiro domingo de março de 2016, tive a graça de reviver o Mestre Jorge Calmon, numa exemplar crônica da lavra de um amigo recente, Marcelo Torres ou Marcelo do Junco (nome antigo do município de Sátiro Dias) como ouso chamá-lo algumas vezes, embora receoso da não aceitação pelo nominado.
O Marcelo publicou, na rede social Facebook, crônica sob o título “Não se esqueça da vírgula”.
Posso lhes asseverar que se trata de um primor de escrita, de uma didática invejável e de um singelo chamamento a revisitarmos os ensinamentos gramaticais.
Aquele escriba navegou, com maestria, em verdadeiros oceanos gramaticais: pilheriou com a formatação de frases e os erros nelas existentes, alertou-nos a todos que figurões do meio jornalístico e de setores sibites da imprensa nacional também cometem erros ao escrever textos e publicá-los. Tudo, tudinho mesmo – como se diz cá no meu Soure – na maior elegância e anotando, caso a caso, a ausência de sua excelência, a vírgula, na composição da frase ou oração; aduzindo a perda do significado pretendido ou a dubiedade do sentido da frase que aquela ausência provocava.
Fez questão, o Marcelo, de avivar em nossas mentes a figura de linguagem denominada vocativo, sua função, seu significado.
Uma verdadeira aula pública!
Obrigado, Marcelo.
Tonho do Paiaiá, revivendo a leitura, reconhecendo méritos.
Nova Soure, 6 de março de 2016