Joaquim (MôFio) e muitas outras das suas peripécias

Estamos em pleno período de celebração, congraçamento, reencontro, lembranças (físicas ou não), saudações e tudo mais – estamos no Natal!!!

Tenho recebido algumas resmas de mensagens, umas de cunho relígio-sagrado, outras desportivo, outros do campo literário, outras de apelo pouco ortodoxo e outras ainda de temas festivo e de alegria, momentâneos ou não.

Aprendi, na convivência em redes sociais, sobre como lidar com mensagens, leio-as todas, guardo-as, respondo e/ou apreendo as muitas que não se chocam com o meu pensar, sobre qualquer delas.

Em sendo período de férias escolares, tenho passado mais tempo com meu netinho Joaquim (ainda com cinco aninhos) dentro de casa.

Conversamos muito – sempre ao nível dele, óbvio. Por vezes sobre seus coleguinhas, sua nova escola, os amiguinhos que não irão se encontrar na mesma escola; seus brinquedos, seus desejos de natal, e tudo mais. Ele é sempre o comandante da conversa.

Reclamando da Preguiça

Certo dia, eu fizera pedido ao Joaquim para que pegasse para mim um livro que estava sobre a mesa da sala de estar. Ele, simplesmente, não dera atenção ao meu pedido e se ausentara da minha alcova, mesmo que antes declarasse sua insatisfação, seu reclamo: “vovô, você não faz nada!!!!”, sisudo, indignado.

Chegando Zenaide ao quarto onde eu estava, lhe pedi fosse buscar o livro e comentei do pedido não atendido por Joaquim.preguiça-1

Sua avó, de logo, chamara Joaquim ao recinto e ponderara com ele. “Joaquim, você não atendeu ao pedido do seu avô? que coisa feia!”

Joaquim, não se dera por vencido: “mas vovó, vovô também não quer fazer nada…!!!”

Fui me explicar ao Joaquim: MôFio, vovô já tá velho, cansado, por isso que lhe pediu pra você pegar o livro.

Joaquim, de pronto, dera a resposta, com certa dose de reclamação: “vovô, bisa (aí se referindo a Dona Marocas, sua bisavó materna, que nos deixara em viagem final, no mês de março deste ano, faltando apenas 5 dias para ultrapassar a barreira dos 100) era mais velha que você e fazia tudo”.

O “fazia tudo” de Joaquim, na resposta, é que sua bisavó materna nunca lhe pedira para fazer tarefas para ela.

Risos à farta! Eu tendo que admitir a realidade mostrada por Joaquim, sem dar o braço a torcer e Zenaide a lhe explicar que se deve ajudar as pessoas quando estas lhe pedirem auxílio.

Consolo a quem precisava

Outro dia, Joaquim me pedira que abrisse um jogo no meu notebook para que ele jogasse. O tal jogo é em inglês, não só as orientações como forma de acessar e jogar. Pronto: lá vou eu ao computador tentei, tentei, tentei e nada de conseguir, afinal sou um montão de zeros à esquerda em língua estrangeira. Mesmo com as orientações do Joaquim não conseguira acessar o jogo para que ele brincasse. Deixamos para outro momento; quando sua mãe chegasse. Ele, pacientemente concordara.

Outra ocasião, fui chamado pelo meu netinho (sempre o trato, carinhosamente, MôFio) para que fosse seu parceiro de jogo no seu xbox que ganhara de aniversário.

“Olha vovô vou colocar no nível mais fácil pra você aprender.20171226_084129 É facinho, facinho, veja só (manipulando os dois joysticks como se eu estivesse jogando) e, pula um boneco de lá; pula um boneco d’acolá; supera uma barreira aqui outra alí…….

Mesmo com toda paciência ensinativa do MôFio, seu velho avô não passava do primeiro roud, “morria” logo; não prosseguia no jogo, o que o deixava desolado e reclamão: “vovô você não presta atenção… é assim ói….(tomando de minhas mãos o joystick, demonstrava como jogar).

MôFio, vovô já não tem mais cabeça pra isso não. Não dá pra você jogar sozinho não?!

Cansado de ensinar ao avô, Joaquim apelara para a vovó – avós são pra essas coisas mesmo; quem for que o diga –  “Você vai ver vovô, como vovó sabe jogar e vai ganhar junto comigo”.

Não dera outra. Vovó teve de largar seus afazeres culinários para jogar com o netinho. O jogo prosseguira, entre risos e reclamos, tudo corria bem e as gargalhadas ecoando casa a dentro, seguidas dos anúncios em voz alta: “ganhei”, “vovó, você perdeu kkkkkk”.

Terminada a sessão xbox me dirigi ao Joaquim para lhe pedir desculpas e explicar que não tinha habilidade em jogar aquele entretenimento preferido por ele.

Olhe MôFio, vovô já tá velho, não tem mais paciência pra aprender a jogar esses jogos difíceis; mesmo por que é tudo em inglês e eu não sei inglês. Vovó sabe porque tem mais paciência que eu e facilidade para aprender essas coisas.

Joaquim, em visível tom professoral e de seriedade assevera: ensinando ao Avô“vovô, a vida é assim mesmo, uns aprendem outros não aprendem. Não se preocupe não!”.

Desnecessário seria dizer do meu espanto e de Zenaide, mas vou consignar: os risos foram em série, a ponto de correrem lágrimas nos olhos dos avós; a alegria e o orgulho maiores ainda em dialogar com aquela criança de pouco mais de cinco anos, já demonstrando certa maturidade no assunto, perante os velhos.

Mas, nesta semana esperativa do Natal, se sucederam algumas outras peripécias do MôFio.

A cumplicidade entre ele e Camila (sua companheira de seguidas horas no lar) é tamanha que conversam entre si como se dois adultos fossem, embora somente aquela já adulta. Eles interagem perfeitamente em conversas, as mais variadas possíveis.

Ela, cuidadosa como sempre, a explicar-lhe os modos de sentar-se à mesa, fazer as refeições, cuidar da higiene, fazer as “tarefas” vindas da escola e ele a lhe interromper: ora para dizer do sabor dos alimentos, das suas preferências, dos seus coleguinhas, da mudança de escola e outras coisas mais.

Revelando-se YouTuber e charadista

Primeiro dissera a Camila: “você sabia que tem um vídeo no YouTube comigo? Eu era ainda pequenininho. O nome é “Joaquim e mais uma das suas peripécias”.

E, chamando Camila ao meu aposento de dormir, pede: “vovô, veja ai no YouTube um vídeo meu” e me dissera o nome do título.

Encontrada a relíquia (https://youtu.be/mwwOpI3iN2k ), pusemos-nos a assistí-la, aos risos e a comtemplar a alegria daquela criancinha, hoje beirando seis anos mas se autodeclarando pré-adolescente.

Satisfeito com o que noticiara e apreciara, Joaquim e Camila voltaram à sala de estar para brincadeiras e conversas, como sempre o fazem.

Viera a sessão de perguntas, em tom de adivinhação/charada. Nesses momentos os dois se igualam em idade mental em demoradas e longas gargalhadas.

Camila investe: “Joaquim o que é que seu avô tem, sua avó tem, seu pai tem, sua mãe tem e eu não tenho?”

Joaquim, não se fizera de rogado. Sem pestanejar respondera com absoluta convicção ( a dele): “gripe”.Gripe

Camila não se conteve de risos e se dirigira ao meu aposento para contar a nova anedota (risos de todos).

É bem de ver que a resposta do Joaquim não fora de todo esquisita. Afinal, ele convive muito mais tempo com Camila de que com os demais citados na pergunta, e, decerto, tem registrado na mente de que sua companheira diária não tem apresentado situações de acometimento de gripes ou resfriados.

Mas, como Camila dissera que a resposta não estava correta, Joaquim quis que fosse revelado o “gabarito da prova”, no que prontamente Camila esclarecera: “carro”.Carros-camila

O riso de Joaquim dobrara e se alongara muito mais que o meu!

A resposta é verdadeira. É real – segundo Camila – mas, considerando a brincadeira no plano lúdico, Joaquim não haveria de supor tratar-se de bem material de tamanha envergadura, suponho.

O afago – seria o espelho meu….?!

Intromissão do velho avô, nas brincadeiras encetadas por Joaquim e Camila, levou-nos a resenhar sobre a nossa nova cadelinha de apenas um ano, da raça Spitz Alemã – por Joaquim nominada Luna ao primeiro dia da chegada dela ao nosso convívio-  quando lancei a pergunta.

Joaquim você viu como Luna ficou bonita depois que cortou os cabelos – Luna havia visitado o pet salão no dia anterior – eu tirei fotografia.20171219_124939 E, ato contínuo, peguei do aparelho celular com a intenção de lhe mostrar as fotos.

Joaquim, olhando repentinamente pra mim, diz: “…. você?! Ficou bonito sim; tá bonito vovô! Seu cabelo ficou bonito”.

Não MôFio eu tô dizendo é Luna – por que minha pergunta fora justamente em relação a ela Luna – e ele, não se dando por vencido: “vovô você ficou bonito”.

O avô babão, babou mais ainda. Há quantas décadas não escuta uma confissão dessa ordem – bonito?! Quem, de sã consciência haveria de cometer tamanha bravata.

E olhando para o Joaquim, com olhos inundados de lágrimas incontidas, lhe diz: ô MôFio! E vovô tá bonito mesmo?!

E Joaquim, afirmativo e consciente (me pareceu, óbvio) “tá, tá bonito mesmo seu cabelo vovô”

Persiste a dúvida: quem está bonito? O avô ou o corte do seu cabelo, que ocorrera há pouco mais de três dias?! Prefiro acreditar que os dois. Afinal, manifestação vinda da alma de um anjo inocente e, talvez, de um tiéte consciente.

Mãe, hoje eu tô bonito. Joaquim foi quem disse!!!!! Gritei, silenciosamente, a todos pulmões. Era minha intenção que D Mariete soubesse da manifestação carinhosa do seu bisneto Joaquim.

Ao findar este artigo, em plena véspera comemorativa do Natal em Cristo, LunaNatalquero dizer do quanto é gratificante conviver com criaturinhas dessa idade. Idade das perguntas, das descobertas, das afirmações, do lúdico, dos desejos, das conquistas.

Mas, é necessário que estejamos sempre alertas para as respostas e/ou condutas perante os atos e perguntamentos dessas criaturinhas.

Somos responsáveis pelas respostas, pelas ações e pelos ensinamentos a elas. Afinal, a educação nasce em casa –  no lar – a escola aperfeiçoa utilizando as metodologias aplicáveis a cada fase da vida delas, as criaturinhas.

Tonho do Paiaiá

Numa véspera de Natal, curtindo a alegria de ser avô.

Salvador, 24 de dezembro de 2017